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LA ESCENA IBEROAMERICANA.
PORTUGAL DESTAQUES DA ACTUALIDADE TEATRAL PORTUGUESA Por Paulo Filipe Monteiro
Terminou a 18 de Julho o melhor festival português de
teatro, sediado em Almada. Por várias salas desta cidade dormitório
de Lisboa, e também por algumas salas da própria capital
portuguesa, passaram 31 espectáculos distintos, inclu Ambos estes festivais se debatem actualmente com sérios problemas de financiamento. Depois de alguns anos da melhor política cultural que alguma vez tivemos (a do ministro socialista Carrilho), veio outro ministro socialista que semeou o caos, e agora temos um governo de centro-direita que apenas se preocupa em diminuir a intervenção do Estado. Mas não quero que, como é costume entre nós, a discussão sobte teatro se esgote nas habituais queixas sobre subvenções e intituições. Um maior debate de ideias em torno dos movimentos teatrais poderia fazer avançar muito os nossos criadores – como aliás aconteceu, nos anos 80, com o fenómeno da nova dança. Infelizmente, o nosso excelente teatro subsiste apesar de não termos discussão de ideias, nem boas escolas, nem sequer, actualmente, quase nenhuma crítica: os periódicos e revistas enviam alguém aos ensaios de imprensa para fazer “reportagens” que substituem o tão necessário comentário crítico. Não existem revistas especializadas e quedo-me surpreso e invejoso quando vejo, nas muitas publicações sul-americanas o nível de profundidade com que criadores e teóricos vêm discutindo o teatro. E no entanto, apesar da falta de condições e de pensamento crítico, ele move-se cheio de vitalidade, o teatro português. Nos últimos anos, temos mesmo começado a ultrapassar a antiquíssima falta de textos originais. País de muitos e grandes poetas e de alguns excelentes novelistas, sempre foi pobre e lírica a nossa escrita para teatro. Agora estão a surgir novos dramaturgos, quase todos jovens e envolvidos na própria prática teatral. Consequência e causa dessa nova dinâmica é o movimento chamado Artistas Unidos, coordenado por Jorge Silva Melo, ex fundador da Cornucópia que esteve alguns anos afastado do teatro e até do país. Este movimento começou por uma oficina de escrita de uma peça, que veio a ser um grande êxito pela surpresa de pôr em palco uma nova geração de actores e, sobretudo, uma nova forma de falar de um quotidiano tão mudado. Hoje em dia, quase sempre nas pequenas salas do edifício de um antigo jornal, com cenografias mínimas e uma equipa jovem, apresentam em dias alternados variados espectáculos que interpelam o presente. Fala-se hoje muito das chamadas artes performativas, no plural porque se troca uma pretensa pureza do teatro por uma mescla de várias artes. O seu desenvolvimento em Portugal está muito ligado a algumas grandes instituições de acolhimento, que trouxeram até nós outras formas de expressão, como a dança-teatro: primeiro, nos anos 80, o Centro de Arte Moderna da Fundação Calouste Gulbenkian; depois, nos anos 90, o novo Centro Comercial de Belém e a Culturgest, que gere as actividades culturais do banco Caixa Geral de Depósitos. Com estes centros e com grandes manifestações culturais como Lisboa 94, Expo 98 ou Porto 2001, podemos dizer que Portugal entrou no circuito das melhores produções internacionais. O que resultou daqui? Uma forte criatividade na dança, que cada vez mais se mistura com o teatro, cria cenas teatrais, faz os bailarinos falar. A incorporação, se não da dança, pelo menos do movimento da nova dança dentro de alguns espectáculos teatrais. E, com ou sem dança, a in-corporação de muitas surpresas, violências e eficácias nas novas linguagens teatrais, que encontramos em certas produções independentes, com destaque para o grupo Sensurround, de Lúcia Sigalho. É em muitas dessas produções que reencontramos o impacte e o significado mais profundos do acontecer-teatro, mesclando o conceptualismo com as emoções, muitas vezes através de uma sensualização que o próprio nome desta companhia patenteia. Dos grupos criados nos anos 60, destaca-se, além da Cornucópia, o Teatro Aberto, que estreou agora em Lisboa um novo edifício, com duas salas, onde pode continuar em melhores condições o seu contínuo trabalho de captação de público para algo que quase não existe em Portugal: um teatro de repertório, com muitas peças contemporâneas, alguns clássicos e alguns novos textos portugueses – repertório que o Teatro Nacional deveria apresentar, se existisse. É vergonhosa a situação do Teatro Nacional sediado em Lisboa, que tem estado nos últimos anos praticamente fechado. O outro Teatro Nacional, no Porto, com uma equipa reduzida a que o director Ricardo Pais imprimiu uma excelente dinâmica (continuada pelo director seguinte e agora demissionário, José Wallenstein), esse tem sabido ao longo da última década revitalizar a actividade teatral do Norte, muitas vezes em associação com criadores e actores de novos e interessantes pequenos grupos que têm surgido nessa área geográfica; e ao mesmo tempo lançou um festival internacional de referência, o PONTI. As formas de teatro mais populares são hoje absolutamente residuais: tanto os autos rurais como o próprio “teatro de revista” de Lisboa, hoje praticamente desapareceram. Mas o grupo de teatro O Bando, agora sediado no campo a meia hora de Lisboa, com a forte presença cenográfica das suas “máquinas de cena”, tem desenvolvido uma interessante mescla entre a antropologia teatral e a vanguarda estética. O resto, não é silêncio. São muitos criadores e grupos que, quiçá injustamente, não destaquei neste breve panorama, possivelmente afectado pelos meus próprios afectos de director, actor e espectador, e certamente mais preocupado em desenhar-vos algumas linhas-chave do que em encher um cemitério de referências. |
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